A morada – ecologia moral do desejo

A experiência moral é, no fundo, a experiência de habitar dois mundos em permanente conflito entre si. O primeiro é o mundo tal como ele realmente “é”, ou seja, um mundo cujos males sempre nos atingem. O segundo é aquele no qual esperamos viver finalmente uma vida sem males, isto é, um mundo de puro gozo; um mundo, pois, tal como “deve ser”. É dessa morada que se trata, fundamentalmente, a experiência moral. É nela que o desejo afeta a si mesmo como necessidade de encontrar a proteção de um abrigo. A reivindicação do direito de gozar é, assim, o seu primeiro julgamento verdadeiro. Fará então qualquer coisa para fazer valer esse direito, a começar por edificar uma casa (oikos) para repelir as ameaças do mundo tal como “é”. Daí as nossas fronteiras, muros e bandeiras. Daí as leis, a autoridade e os costumes. Mas daí também as fissuras e rachaduras que, suportando a pressão que vem do mundo tal como “é”, sempre se desdobram, no desejo, como consciência dos seus próprios limites. Todo o resto é sobre como o desejo aprende a lidar com essa iminente “ruína da casa”, vale dizer, sobre como escolherá negociar ou não, com os outros desejos, a domesticação recíproca de sua mútua carência.

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